IDENTI Lindoso

IMAGEM

DESCRI Castelo

CRONO Idade Média

LUGAR Lindoso

FREGUE Lindoso

CONCEL Ponte da Barca

CODADM 160612

LATITU 544,2

LONGIT 194,5

ALTITU 462m

ACESSO O acesso ao castelo faz-se pelo caminho municipal que liga a aldeia à estrada nacional EN.304-1 (ligação Ponte da Barca à fronteira da Madalena - troço do futuro IC.28). O monumento está sinalizado.

QUADRO

TRAARQ

DESARQ As fontes documentais são praticamente omissas em relação aos tempos medievos do castelo de Lindoso, não se conhecendo nenhum documento que refira a sua fundação. Com uma função estritamente militar, o castelo de Lindoso nunca deteve qualquer estatuto jurídico-administrativo, integrando-se sempre na Terra da Nóbrega, circunscrição territorial sob a administração e controlo do poderoso castelo de Aboim da Nóbrega. O seu primeiro alcaide conhecido foi um certo João Aires que, já no século XIV, foi nomeado por D. Pedro I, não existindo nas chancelarias reais alvarás mais antigos. A partir deste século a história do castelo vai confundir-se com a gesta dos Araújos de Lóbios, família que conservará por cerca de dois séculos a alcaidaria do Lindoso numa espécie de tenência precária, quase sempre renovada. O mais célebre pelas façanhas e poder foi o notável Paio Rodrigues, filho de Rodrigo Anes, nomeado alcaide por D. João I. Seguiu-se um certo Lopo de Araújo, nomeado pelo mesmo rei, para o cargo em 1464. Decorrente da sua função exclusivamente militar, o castelo de Lindoso terá conhecido uma ocupação descontínua, revelando a sua máxima utilidade apenas nos períodos de conflitos regionais e/ou nacionais. Esta descontinuidade, perceptível na precaridade da sua tenência e evidenciada pelos dados das escavações arqueológicas, está bem manifesta nos registos do Numeramento ordenado por D. João III em 17 de Julho de 1527, segundo o qual, a essa data, o castelo estava ermo, tendo então a povoação de Lindoso apenas 41 moradores. A fortificação medieval foi construída com pedra extraída no próprio local, como evidenciam os rasgos para colocação de cunhas que se observam, quer nos silhares das muralhas quer nos afloramentos graníticos colocados a descoberto. Alicerçadas na rocha de base, que por vezes foi ligeiramente afeiçoada para receber os silhar, as muralhas são formadas por parede de face dupla construída com blocos graníticos de grandes dimensões, desenhando um aparelho regular pseudo-isódono. As superfícies de encosto foram afeiçoadas, determinando juntas muito estreitas, sem argamassa. As superfícies das faces apresentam-se lisas, com um acabamento mais refinado nas fiadas acima do nível de circulação e sem qualquer acabamento nas fiadas inferiores, que estariam soterradas. O miolo da parede é de cascalho, calhaus e terra saibrosa. Desenhando uma planta simples de forma sub-quadrangular, torre de menagem do lado Norte integrando a muralha, e porta no lado oposto (Sul), flanqueada por dois cubelos, com muralhas espessas incorporando cinco balcões tipo "hourd", de que apenas se conservam alguns matacães, a edificação revela características técnico-construtivas aparentemente homogéneas, embora se distingam pelo menos duas fases: uma primeira de maior qualidade, com silhares de maiores dimensões e faces com melhor acabamento, de superfície lisa, ostentando sigla de canteiro, correspondente à metade inferior da torre de menagem, cubelos, porta e troço NE da muralha - datará de meados ou terceiro quartel do século XIII; e uma segunda, qualitativamente mais fraca, com aparelho de menores dimensões, superfícies das faces menos bem tratadas e ausência absoluta de siglas, correspondente à finalização das partes anteriormente iniciadas e construção dos restantes panos de muralha - terá sido realizada nos finais do século. No canto NE localiza-se a cisterna, de planta de forma quadrangular, adossada à muralha Este. Apresenta cobertura abobadada de arco ligeiramente apontado, bem aparelhado e com aduelas sigladas, rematada superiormente por um enchimento irregular de calhaus e cascalho que aflora ligeiramente acima da superfície. Não ultrapassa os 3 metros de profundidade. Para a cronologia proposta para a fundação do castelo, genericamente a segunda metade do século XIII, concorrem não só a tipologia das siglas e as produções cerâmicas recolhidas nas escavações arqueológicas aí realizadas, mas também as "armas" afonsinas gravadas no topo do arco exterior da porta Sul. Na sequência das guerras da Restauração e pela sua posição geo-estratégica, o castelo de Lindoso transformou-se numa praça forte de grande importância, sendo então palco de inúmeros combates entre Portugal e Castela, ora ocupado por uns ora por outros. Foi nessa época, meados e terceiro quartel do século XVII, que o seu sistema defensivo sofreu uma completa reestruturação, adaptando-se às novas exigências, determinadas pela introdução da artilharia nas tácticas militares da época. Se entre 1641 e 1643 o alcaide de Lindoso, Baltasar de Sousa Menezes reparou e fortificou melhor o castelo a expensas suas, a mais significativa intervenção foi sem dúvida a executada pelos espanhóis anos depois, ao construírem uma nova muralha em torno da cerca medieval. De facto, a novacercade traçado poligonal tipo Vauban, de baixos muros abaluartados, com os característicos ângulos avançados protegidos por canhoneiras e guaritas, que ainda hoje subsistem, sendo uma obra de grande solidez e monumentalidade, tornou a fortaleza praticamente inexpugnável. Foi obra da traça e engenho do italiano D. Gasparo Squarciáfico, Marquês de Buscayolo, ao serviço da Coroa Espanhola desde 1656. Em 1664 os portugueses reconquistaram o castelo. A assinatura do Tratado de Paz com a Espanha em 1668, pondo fim a uma luta sangrenta de vinte e sete anos, veio confirmar a nossa independência, reconhecendo-se ao castelo de Lindoso um decisivo papel na manutenção do traçado fronteiriço nesta região. Por esta época, ou um pouco mais tarde, as muralhas medievais foram alteadas, criando-se um novo sistema de entradas, estacadas e fossos. Instalou-se uma guarnição permanente no pátio interior, com casernas, forno/padaria, armazéns, moinho e oratório, servindo um corpo militar composto por cerca de 300 homens (conforme documentam plantas dos inícios e meados do século XVIII). A técnica construtiva da muralha abaluartada é completamente distinta da medieval. O aparelho é irregular, formado por calhaus sem afeiçoamento de dimensões muito variáveis, dispondo-se em manposteria com juntas muito largas, à excepção dos cunhais dos baluartes, que apresentam blocos de maiores dimensões, afeiçoados no encosto das esquinas. O miolo da parede é preenchido por terra, saibro, cascalho e calhaus. A sua espessura não é uniforme ao longo do perímetro, embora seja sempre mais larga na base e mais estreita no tôpo - parede interna vertical e externa em rampa ou alambor, característica comum às fortificações deste tipo. Importa referir ainda que o castelo se articulava com um sistema defensivo mais complexo: 3 amplas trincheiras e 3 baterias, situadas entre 1 e 2 kilómetros, em Chão do Clérigo, Fundal e Eido Velho, dominando a passagem sobre o rio Cabril, faziam a defesa avançada do castelo controlando o acesso ao vale do rio Lima. A sua construção data de 1801, correspondendo ao reforço defensivo das fronteiras portuguesas, prevenindo o envolvimento do país nos conflitos internacionais da época, como as invasões francesas vieram a confirmar. Este sistema defensivo aparece bem descrito nos diversos documentos produzidos a propósito do conflito de limites da fronteira de Lindoso, aparecendo inclusivamente representado no mapa da fronteira desenhado em 1803 pelo capitão-engenheiro Custódio Gomes de Villasboas. Com alterações pouco significativas, resultantes de pequenas obras de adaptação e reforço, a fortificação permaneceu ocupada por guarnições militares ao longo de todo o século XVIII e até 1895, data a partir da qual foi desactivada. O seu abandono conduziu ao arruinamento progressivo das construções, apesar de em 1932, pelo Decreto 20985, de 7 de Março, o castelo ter sido classificado como Monumento Nacional. Na década de 40 foi objecto de obras de restauro e conservação por parte da D.G.E.M.N.. Em 18 de Fevereiro de 1976, por despacho exarado nos termos do Decreto-Lei nº 48059, de 23 de Novembro de 1967, passou para administração do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Está em excelente estado de conservação.

INTERP

DEPOSI

INTERE Trata-se de um monumento de inegável significado histórico regional e de excepcional valor científico e patrimonial, fundamental para a compreensão dos povoamento medieval e definição da fronteira na região, classificado como Monumento Nacional (Dec. 20985, de 7-3-1932), sob administração do PNPG. Constitui já uma importante atracção turística. Foi recentemente objecto de um "projecto de tratamento museológico e rentabilização cultural", abrigando actualmente um Centro de Interpretação do PNPG.

BIBLIO

ALMEIDA, C.A.F.(1987). Alto Minho, (novos guias de Portugal, 5), Editorial Presença, Lisboa, 1987.

FONTES, L. e REGALO, H.J.L.(1992). "Lindoso, Um Castelo no Parque Nacional ", Correio da Natureza, 16, Instituto de Conservação da Natureza, Lisboa, 1992, pp.18-23.

FONTES, L. e REGALO, H.J.L.(1994). "A componente arqueológica do "Projecto de Tratamento Museológico e Rentabilização Cultural" do Castelo do Lindoso", Actas V Jornadas Arqueológicas (20, 21 e 22 Maio 1993), I, Associação dos Arqueólogos Portugueses, Lisboa, 1994, pp.33-44.

AUTOR Luis Fontes

DATA 04-FEV-1998

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