IDENTI Bravães
IMAGEM
DESCRI Igreja
CRONO Idade Média
LUGAR Bravães
FREGUE Bravães
CONCEL Ponte da Barca
CODADM 160603
LATITU 536,6
LONGIT 173,4
ALTITU 50m
ACESSO O acesso faz-se directamente a partir da estrada EN.203, que liga Ponte da Barca a Ponte de Lima. O templo fica à margem desta estrada, lado Norte, cerca de 3 km para Oeste da sede do concelho. O monumento está sinalizado.
QUADRO
TRAARQ
DESARQ A actual igreja paroquial de Bravães era o templo de um antigo mosteiro beneditino que nos finais do século XII se instituiu como comenda dos Templários, passando o mosteiro também nessa altura para posse dos agostinhos. Segundo referenciam as "Inquirições" de 1258, Afonso Henriques terá coutado o mosteiro ainda antes de 1180. Sem conseguir superar sucessivas crises internas, chegou ao século XV praticamente ermo. Em 12 de Fevereiro de 1434 o arcebispo bracarense Fernando da Guerra, em cumprimento de um Breve papal, extinguiu o mosteiro de Bravães, ficando o seu templo reduzido a igreja paroquial. O edifício actual, acusando embora algumas remodelações, designadamente restauros contemporâneos que incluíram a desmontagem do campanário duplo que coroava a fachada, remonta no essencial aos finais do século XII e primeiro quartel do século XIII, conforme sugerem a inscrição obituária da porta Sul datada de 1187 e os cavaleiros com armas em desenho inciso num silhar da parede meridional. Outros elementos arquitectónico-decorativos, como a evoluída rosácea de oito tramos do topo da nave, remetem já para meados de Duzentos, sugerindo portanto que a obra do edifício românico atravessou várias fases. A decoração interior viria a ser enriquecida nos séculos XV e XVI por um notável conjunto de frescos, do qual infelizmente apenas restam alguns painéis. A igreja é formada por dois corpos, capela-mor e nave, rectangulares, com vãos bem distribuídos, construídos com silharia de talhe pouco cuidado e irregularmente aparelhados. Apesar das remodelações que patenteia, é um conjunto de dimensões não muito avantajadas mas de proporções equilibradas e harmoniosas, notabilizado pelo magnífico conjunto escultórico da entrada principal, verdadeiro portal-retábulo devido ao qual Bravães é, como justamente escreveu Carlos Alberto Ferreira de Almeida, "uma das mais celebradas igrejas românicas portuguesas", ou ainda, nas palavras de Graf e Gusmão "uma das obras capitais da arte românica portuguesa". No interior destaca-se, para além da já referida rosácea que o sobrepuja, o arco-cruzeiro de dupla volta ligeiramente apontada, decorado com figurações típicas do românico bracarense - animais fantásticos afrontados, folhas de acanto e zig-zagues. Todas as janelas, frestadas , apresentam, no mais amplo triedrointerior, um arcode volta perfeita sustentado por colunas sobre impostas com decoração exaquetada que se estende em friso ao longo das paredes. Nas paredes laterais da nave abrem-se, de acordo com uma estruturação padronizada, dois pequenos portais decorados - num e noutro releva a esculturação dos tímpanos, no setentrional dois quadrúpedes ladeando um inacabado motivo geométrico central com laçarias e no meridional, apoiado em mísulas em forma de cabeça de leão, um cordeiro toscamente desenhado cruzado por uma cruz patada com pé. Nos silhares que guarnecem o portal Sul gravaram-se várias inscrições e grafitos funerários, conseguindo apenas ler-se o já referido epitáfio de Egeas Menendiz, falecido em 1187. Dois sarcófagos antropomórficos de granito, nas traseiras da cabeceira, testemunham também uma modalidade de tumulação bastante difundida nos tempos medievais. Exteriormente, as paredes são rematadas por uma cornija apoiada numa cachorrada de modilhões, lisos os da nave e esculpidos os da ábside. Por fim, o portal principal. É composto por cinco poderosas arquivoltas de meio ponto, cujo lançamento em profundidade é acentuado pelo maciço, tipo gabelete, que faz a ligação da arquivolta exterior à fachada, ligação reforçada pelo friso envolvente lavrado no próprio paramento do maciço. A arquivolta exterior apoia sobre impostas que se prolongam pelo muro em friso, enquanto as outras quatro arquivoltas se apoiam sobre quatro pares de colunas esculpidas. Duas delas, uma de cada banda, em lugar de aparente destaque, são figurações humanas - à esquerda uma figura feminina, com a cabeça coberta por um véu plissado de monja, sendo igualmente monástico o hábito, de onde emerge a mão direita apoiada contra o peito e a mão esquerda sobre o ventre; no lado oposto, à nossa direita, figura um homem com as mãos erguidas de palmas viradas para fora, em saudação, barbudo e cabeça descoberta, por detrás da qual se nota um capuchão, característico dos trajes monásticos. Enquanto alguns autores interpretam a iconografia destas esculturas no sentido de representarem a cena da Anunciação, considerando a mulher uma representação da Virgem e o homem o Anjo, outros entendem tratar-se de duas personagens independentes, figuras bíblicas ou eventualmente monásticas. As outras seis colunas são decoradas com temas inspirados nos capitéis, uma solução claramente local, original e única - aí apreciamos, num relevo inchado e volumoso, figurações típicas de capitéis do Alto-Minho de inspiração bracarense: aves debicando, serpentes enleadas e animais trepando. Nas arquivoltas continuaram-se alguns destes temas, esculpindo-se as suas aduelas com animais trepadores, aves de asas cruzadas sobre as costas e encordados ou ainda a significativa sequência da terceira arcada, com uma série de apóstolos com livro e outras figurações inábeis, sem qualquer proporção. No tímpano, sustentado por mísulas em característica forma de cabeça de touro, foi gravado um dos raros exemplares portugueses de figurações humanas, com Cristo ao centro, acocorado, envolvido por mandorla segurada por dois anjos. À primeira vista, a profusão escultórica dos elementos que adornam o portal produzem uma impressão de confusão. Contudo, uma observação mais atenta do conjunto permite apreender-lhe a coerência, o fascínio e a riqueza de um ritmo que não se viria a repetir em mais nenhum portal românico português. Do mesmo modo, a imperfeição formal com que se materializou o programa iconográfico acaba por conferir, pelo "primitivismo" da arte, um encanto suplementar à obra. Assim, o portal ocidental da igreja de Bravães acaba por se afirmar como uma verdadeira "porta do céu", constituindo-se, de facto, como um testemunho da arte cristã românica de excepcional importância.
INTERP
DEPOSI
INTERE Indiscutivelmente reconhecida como uma das obras-primas da arte românica portuguesa, classificada como Monumento Nacional desde 1910 (Dec. de 16-6-1910), a igreja de Bravães é um monumento bem conservado, de inegável significado histórico regional e excepcional valor científico e patrimonial, fundamental para a compreensão do povoamento medieval e da penetração e difusão do " românico" na região limiana.
BIBLIO
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GRAF, G.N. e GUSMÃO N.(1988). Portugal Roman / 2, Ediciones Encuentro, Madrid, 1988.
AUTOR Luis Fontes
DATA 04-FEV-1998
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